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SÍMBOLOS QUE APROXIMAM DE ALLAH Sheikh Muhammad Ragip al-Jerrahi*Artigo publicado na Revista Diálogo, Edições Paulinas, fevereiro de 2003 Allah no diz no Sagrado Alcorão: "Criamos o homem e sabemos o que seu íntimo
lhe confidencia, pois estamos mais próximos dele que sua veia jugular." (50:16) A prática devocional islâmica,
estabelecida por Allah, visa levar o muçulmano a tomar consciência desta proximidade, o que pode ser alcançado quando aquele que pratica os ritos externamente procura assimilar seus significados interiores.
O corpo de significados é muito amplo e abrangente e vários volumes poderiam ser escritos para elucidá-los, neste artigo serão
feitos breves comentários sobre as principais práticas. Sahaada – a confissão de fé Consiste em crer e testemunhar "
La ilaha illa llah, muhammadan rasulullah". Não há divindade exceto Allah e Muhammad (saws) é Mensageiro de Allah. É a
declaração de monoteísmo, que deve ganhar significado real na existência do muçulmano a partir da compreensão e vivência de suas implicações em sua dimensão interna. Um dos aspectos deste significado é a tomada de
consciência de que as condições e os apelos da vida material tornam-se freqüentemente senhores do mundo interior. Ao permitir que determinem os valores maiores, o sentido de viver e a motivação da conduta, são
transformados em divindades. O verdadeiro monoteísmo deve ser alcançado além da sua expressão verbal e formal. Deve ser
buscado nas dimensões internas, no íntimo, através da identificação e expurgo da submissão aos ídolos das paixões e desejos. Deve também ser expresso externamente, na conduta do muçulmano, pautando-a no exemplo e
na ética do Mensageiro de Allah (saws), entendido como a expressão máxima de perfeição que um ser humano pode alcançar.
As cinco orações diárias A oração muçulmana expressa-se externamente na recitação de preces e passagens do Sagrado Alcorão,
acompanhada por movimentos do corpo que assume diversas posições. Os horários das orações são determinados pelos movimentos do sol e dos planetas, conectando e permitindo harmonizar a dimensão humana com os ciclos
cósmicos da criação. Ao obedecer o horário das orações o muçulmano reconhece as limitações de sua vontade, submetendo-se, voluntariamente, prostrando-se em humildade diante da Infinita Vontade de seu Criador.
As diversas posições da oração permitem reconhecer aspectos da natureza e realidade humana. O muçulmano inicia sua oração,
em pé, com seus olhos deve fitar o ponto no chão onde, quando se prostrar, irá colocar sua testa, e tomar consciência de sua origem, no pó, e de que a ele retornará. Afirma interiormente sua intenção de
orar, e começa dizendo: "Allahu Akbar", Deus é O Maior. Simultaneamente eleva suas mãos na altura das orelhas e em seguida as coloca sobre o abdômen. Este gesto simboliza o atirar para trás, com as costas das mãos, as
preocupações com as coisas deste mundo e o colocar-se, em adoração, diante de Allah. Sentir-se diante do Criador, deve levar a um sentimento interior de humildade, perante o Ser Infinito, expresso fisicamente quando o
muçulmano se curva, colocando as mãos sobre os joelhos. Nesta posição pode ainda tomar consciência de sua natureza animal, e em louvor a Allah propor-se a educar e submeter sua natureza inferior à Vontade Maior do
Criador. Na seqüência prostra-se com a testa no chão e olhos abertos, contemplando sua origem e seu destino, a finitude de sua existência corpórea. A oração é feita com o muçulmano voltado na direção da Caaba em Meca. Na Surata Bácara, ayat 115, Allah nos informa: "A Allah pertencem o leste e o oeste, e aonde quer que
vos volteis lá encontrareis a Face de Allah ..." Portanto, voltar-se para a Caaba, não significa que o muçulmano crê que Allah, O Absoluto, O Infinito, está localizado e limitado a este templo. A Caaba é um símbolo
externo, no mundo visível, da Casa existente no universo invisível. Para aqueles a quem Allah abre as portas, o mundo material e visível é nada mais que um portal para o invisível, para o universo angelical. Em qualquer local da Terra, onde há muçulmanos, estes oram voltados para o mesmo ponto, expressando com seus corpos a unidade da
fé. Em uma tradição sagrada o Profeta (saws) refere-se ao coração humano como a verdadeira Caaba. Jaami, um místico islâmico do século VIII, comentou: "Fazer um coração feliz é mais meritório que construir mil Caabas.
Pois a Caaba foi construída pelo Profeta Abraão (as), enquanto que o coração foi feito por Allah e o coração fiel é o local onde Ele se manifesta." A Caridade Uma vez ao ano o muçulmano deve doar a necessitados 2,5% de seu lucro
acumulado, doação denominada Zakat. Além do valor concreto de auxílio e de expressão de solidariedade o Zakat
traz significados essenciais na relação interior do muçulmano com o Criador. É um teste de caráter. Proferir verbalmente a confissão de fé tem pouco valor. É necessário que direcionemos nosso amor ao Um e Único, pois o amor não tolera companheiros. A intensidade deste amor é testada pela separação do amante das outras coisas que ama. As coisas deste mundo são objetos de amor, são meios para desfrutar seus benefícios, geralmente levando ao apego. O pagamento do zakat é uma das formas de combater a avareza. Também é uma expressão de gratidão pela infinidade de benesses que o muçulmano recebe, como ser humano, de seu Criador, a começar pela própria vida.
O Jejum
Uma vez ao ano, no mês islâmico do Ramadzan, o muçulmano abstém-se de comer, ingerir líquidos e relações conjugais da alvorada (aproximadamente um hora e meia antes do sol nascer) até o por do sol. São
inúmeros os benefícios físicos do jejum, e ao sentir fome voluntariamente, o muçulmano pode compreender o estado daqueles que sentem fome compulsoriamente, contribuindo para intensificar o sentimento de solidariedade
para com os desvalidos. O jejum evidência aspectos importantes de nossa relação com a materialidade, uma vez que a satisfação dos apetites vincula-se diretamente com nossa própria existência física.
A peregrinação Uma vez na vida, tendo condições materiais, o muçulmano deve fazer a
peregrinação à Meca. Os rituais da peregrinação foram instituídos pelo Profeta Abraão (as), e foram mantidos vivos até a época do Profeta Muhammad (saws), que restabeleceu o monoteísmo, esquecido pelos descendentes de
Abraão e seu filho Ismael com a passagem dos séculos. Preparar-se para a peregrinação é como preparar-se para partir deste mundo. Resolver todas as pendências, liquidar as dívidas, pedir perdão e perdoar, vestir-se com
o Ihram, que simboliza a mortalha e apresentar-se a Allah, a Seu serviço, para visitar Sua Casa. Muçulmanos congregam-se em certas passagens do Hajj que simbolizam as almas congregadas diante de Allah no Dia da
Ressurreição. Em outras passagens os fiéis circundam a Caaba. O rito formal de circunda-la com o corpo complementa-se com o sentimento de respeito, reverência, esperança e amor. O circuito assemelha-se ao circuito dos
anjos próximos à presença Divina, que circundam o Trono. O propósito é circunda-la com o coração em lembrança de Allah, e da mesma forma que o circundar começa na Casa e termina na Casa lembrar-se que tudo começa
em Allah e termina em Allah. Hajj Sheikh Muhammad Ragip al-Jerrahi |
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